segunda-feira, 6 de setembro de 2010



Arranha-Céu


Depois de tanto vento soprar, tanta coisa voar, tanto a terra mexer, ela caiu ali. Bem no lugarzinho certo. Um buraquinho na terra molhada, banhada de sol e amor, bem morninho, fez-se o ventre.
E a Mãe Terra, querendo o melhor para todos os filhos, jogou vida. Soprou vento, regou, deu nutrientes e amor. Brotou. Verdinho, novinho, pequeno. Mais vida. E foi crescendo, crescendo, crescendo... foi tentando alcançar o céu, bem devagar.
Virou uma planta frondosa, cheia de folhas bem feitinhas, tronco forte e beleza estrondosa. Era sopro da mãe, não poderia ser menos que muito. Mas acontece que, como as fadas, as plantas também são presenteadas com um pecado, por falta de espaço para mais que isso. E essa, é claro, tinha o seu.
Então a planta, tão bonita e forte, crescida em jardim bem cuidado, tentou imitar o sol, que era o astro dos astros. Mas de tanto tentar o que não devia, acabou por ter só duas florzinhas, pequenas, amarelas, delicadas. Uma em cada ponta, uma em cada direção.
As florzinhas, inocentes até então, tentaram se ver, se falar, se amar. Mas não deu. E a planta começou a murchar, por falta de amor e muita tristeza. Porque os pontinhos de luz sentiam solidão. E no cinza que ela foi ficando, as florzinhas começaram a brilhar cada vez mais.
O que aconteceu, de fato, foi que, de tão morte que se tornavam, uma pôde perceber melhor o brilho da outra, então o amor brotou de novo. A chuva caiu e a vida recomeçou, deixando a morte se esvair dela, como água em barranco.