sábado, 20 de março de 2010





O Balão Negro-Luz


Amarelo, voador, redondo, apaixonante. Até umas fitinhas coloridas ‘tirilintando’ com o vento ele tinha. Mas era tão, tão, mas tão alto! Tão magnífico, mas tão alto. E ela, tão pequenininha e indefesa, jamais conseguiria pega-lo.
Bem que ele podia ser uma pipa, daquela que os meninos cortam a linha e depois correm pra pegar. Ela ia arranjar um menino para fazer o “trabalho sujo” para ela, com toda certeza. Melhor não, porque cortar uma preciosidade daquela com cerol era um quase pecado ensurdecedor.
Ensurdecedor também não, aquele barulho todo era a mamãe chamando. Mãe quer que a gente faça cada coisa. Aquilo não era hora nem de comer, nem de tomar banho, nem de nada mais. Nada além de admirar aquele balão tão lindo pela janela do quarto.
Amarelo sempre fora sua cor predileta. Por isso ela sempre sonhou em ser florzinha, porque sendo florzinha ela ia poder ser amarela também. Amarelo quase sol, amarelo felicidade.
Pena que felicidade para ela era algo tão abstrato. Nem devia ser verdade. Existia aquilo? Aonde? Ela só conhecia a felicidade de olhar e de imaginar. Porque sentir mesmo, aquilo vindo do coração, deixando suas pernas bambas e tudo, nunca. Seu sorriso nunca ficou colado no rosto, sem querer sair, esticando você até não poder mais. E as cosquinhas na barriga? Nada. Ah, não, erro meu. Sentiu cosquinhas sim, mas eram de fome. Eram mais pra dor, isso é verdade.
Sendo amarela ela não teria aquela cor tão escurinha, parecendo a noite. E de lua ela só tinha o branco dos olhos. Aquelas duas jabuticabinhas enxergantes. Pelo menos balão amarelo aquelas jabuticabas podiam ver. Mas era uma menina tão linda. Não se sabe até hoje porque tanto julgamento, se ela era linda sendo daquele jeito.
Até que ela resolveu ouvir o que a mãe dizia. Era para pedir algo ali na padaria. Ótimo! Ia atrás do balão, nada iria impedi-la de pegar aquele tesouro amarelo-felicidade. E saiu correndo, as trancinhas quase dando uma surra naquele rosto aceso.
Ela esqueceu a fome, o sofrimento, tudo. Esqueceu o carro que passava. Esqueceu tudo pra sempre. Esqueceu tanto que até saiu de si. Mas saiu mesmo, de verdade.
Quando a mãe foi no quarto chorar, tinha um balão amarelo lá dentro. A janela aberta deixava uma ventania sem igual entrar. O balão tinha um sorriso desenhado de canetinha. As fitinhas coloridas tirilintaram de novo, o vento carregou o balão para fora. E lá a mãe ficou, sentindo a chuva e a dor da saudade quase eterna. Só ia durar enquanto ela respirasse.
Até que veio alguém cheio de imaginação e desconhecedor da historia. Inventou que girassol segue o sol. Mal sabia ele que, na verdade, aquelas florzinhas amarelas estavam procurando um tal balão amarelo e voador. E a única coisa que encontravam era aquela estrela irradiando felicidade.


ps: Sim, eu que escrevo tudo.
Sim, os textos são todos meus.
Não, ninguém pode pegar sem pedir.
Is we :D

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