sábado, 10 de julho de 2010



Sopro


Nascera normal, de parto normal, crescera assim. Feliz, falante, tudo como deveria ser. Cabelos muito lisos, comportados, tudo muito direito. Bem branquinha, muito regrada.
Até que, quando menina, conheceu o amor. Começou com um olhar. Só dela, aliás. E foi crescendo, devagar, como uma sombra invadindo a sala de estar. É, ela conheceu o amor e as sombras, os dois como um só. A história se desenrolou, como qualquer história e, enfim, o tempo os separou.
O tempo, ah... Ele nunca para de passar. Ele passou tanto, tanto e sem perdoar. Bem aí, ela percebeu que o amor não tinha passado.
Chorou, sofreu, tudo de novo. E, no meio do seu completo desespero, pediu a Deus, com as forças que lhe restavam, que o tirasse do amor que ela tinha no coração. Que ele (o amor), tão delicado, fosse guardado em uma caixinha, trancado à chave. E ficou leve, bem leve, como antes das sombras.
Sem mais nem menos, em um dia qualquer, começou com um olhar. Uma caixinha; uma chave. Abriu. Era tão bonita a caixinha... Foi como uma flechada no peito. Tudo ficou muito claro. Transformou-se em vento e, depois de fazer redemoinho e destruir a casa e as lembranças, foi como ventania até a pedra mais alta da praia. Sentou-se como uma deusa, bronzeada e com os cabelos bagunçados; ondulados e sempre em movimento. Ela segurava a caixa.
Agora é brisa do mar, fazendo marola. De vez em quando, aparece alguém solitário e sem amor na sua praia. A caixa também aparece, junto com uma brisa forte. Ela tenta tocar o coração de alguém, para que possa descansar em paz. Com ele guardado na caixa e o amor puro no coração. Para que consiga, finalmente, se jogar da pedra e virar concha do mar.

Um comentário:

  1. Quando tu nasceu Deus aponto pra ti e disse:"Mari, tu é o cara!!"

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