sábado, 21 de novembro de 2009




Um só tempo.
Uma só vida.
Um só amor.
Uma única vez.
Um único parágrafo.

Morte e vida não são antônimos.
Da quase morte nasce a vida.



Parágrafo Vidal

Era pequena. Não conhecia o mundo. Se escondeu no escuro, deixou-se ir. A morte? Mas a quem importa o que não pode ser visto? Não entenda, durma. Durma, meu amor. Mas a consciência absoluta não se esvaía. Por sorte se ausentava, por alguns poucos minutos. Era quando sonhava. E se contorcia. As mãos suavam, os pés gelavam, a boca secava, a cabeça atordoada. Infame. Mero castigo. Nenhum olhar. Sentia-se crescendo, sentia-se no ventre. Sem leite materno, sem cordão. A ligação com o encantamento de qualquer coisa diluiu-se. A consciência matava. Ou pior, deixava viver. Calor, medo. Nenhum olhar. Nenhum olhar. A continuidade se revela apenas em seu ser. Para quem dorme o tempo não passa. Eis o porquê do beijo de boa noite. Não há bom dia. Que dia? Conforto e conformismo aguçados. Às vezes quentinho e acolhedor. Ainda sem cordão. Se encolheu. Se abraçou. Como feto. Os olhos doeram, o quentinho se foi. Ela toda se esticou. E não era mais a mesma. Mil cordões. Incontáveis, indescritíveis. Infinitos cordões, se é que se chega ao não-medir, por vez. Abriu os olhos. “Não se mexa.” Viu o sol se deslocando. Viu a esfera oval se contraindo. Como óvulo. Incontrolável aptidão, foi enfeitar. Voou. Deixou o casulo, foi para o ventre. Pulsou o coração. Era apenas um elétron vagante de uma célula em experiência.

Um comentário: